PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

PEÇAS DESAPARECIDAS - IMAGENS ROUBADAS - CONTO - "IMAGENS"

IMAGENS
Autor: Carlos Henrique Rangel
Santo Antônio foi furtado da capela do distrito de Zito Soares, em Santa Cruz do Escalvado. 
Imagem roubada no dia 27 de dezembro de 2014.
 Foto: Paróquia de Santa Cruz/Divulgação


O homem depositou o pacote sobre a mesa e limpou o suor da testa.

-       Está aí. Não foi fácil... Tinha alarme... – Disse homem olhando para o senhor de cabelos brancos que segurava um copo de bebida.

-       O que estou te pagando cobre todo o risco... – Disse o homem de cabelos brancos.

-       Claro senhor Jorge, eu não estou reclamando. – Disse o homem suado.

-       Tome o seu cheque e pode ir.  – O homem suado limpou novamente a testa e partiu.

Jorge rasgou o embrulho e sorriu quando viu a bela imagem de Santo Antônio que havia adquirido. Deu uma volta ao redor da mesa admirando a peça e sorriu novamente.

-       Mestre Piranga... Sim... Tenho certeza... Agora vou te apresentar a sua nova casa. – Disse pegando a imagem. Carregou-a por um corredor e parou na ultima porta a direita. Segurou a imagem entre o braço esquerdo e abriu o pesado cadeado. Era um quarto pequeno com apenas uma janela bem fechada.

Acendeu a luz e sorriu para as várias peças sobre uma grande mesa.

-       Mais uma para a minha coleção...Santo Antônio apresento-lhe seus irmãos. – Disse ajeitando a imagem do santo entre uma Nossa Senhora do Rosário e um São José.

Correu os olhos novamente para o seu acervo e sorriu feliz. Apagou a luz e fechou a porta.

O ruído ele ouviu quando ainda colocava o cadeado sobre o trinco.
Eram vozes.
Parou de mexer na porta e esperou.
Colocou o ouvido na porta e esperou.
As vozes começaram tímidas.

-       Mais um... Como vai Santo Antônio, seja bem vindo ao nosso humilde lar. – Disse a Nossa Senhora ajeitando a coroa.

-       Obrigado Senhora, o prazer é todo meu... Mas... Onde estou? A ultima coisa de que me lembro foi de ter sido enfiado em um saco... – Disse o Santo olhando ao redor, custando a enxergar naquela escuridão.
-       Isto aconteceu com todos nós... – Disse um São João Batista que estava mais no canto ao lado de uma Santa Efigênia.

-       Fui roubado? – Perguntou o Santo assustado.

-       Foi. Todos nós fomos. – Falou uma Nossa Senhora de Lourdes.

-       Até hoje tenho pesadelos por causa daqueles brutos que me tiraram do altar... Olha, quebraram uma de minhas asas... – Falou um anjo mostrando a asa com um grande remendo.

-   Traumatizado, coitado... Nem dorme direito. – Completou a Nossa Senhora do Rosário balançando a cabeça.

-       Eu nunca pensei que isto iria acontecer comigo... Já haviam me falado destas coisas. Mas na minha igreja foi a primeira vez...

-       Ai meu filho, na minha igreja aconteceu tantas vezes... Ai que saudades dos velhos tempos em que éramos tratadas com respeito... Tantos anos... Quase trezentos anos atrás. – Lamentou a Nossa Senhora do Rosário.

-       A senhora esta muito bem... Não parece tão antiga... – Falou o Santo Antônio admirando a Imagem da Senhora.

-       Ah meu filho, tenho alguns probleminhas, uma pequena rachadura, a pintura do meu manto está desgastada...

-       Não se nota. – Disse o Santo.

-       Sou uma boa peça... Acho que todas nos somos. – Completou a Senhora.

-       Aleijadinho?

-       Não... Jorge diz que sim. Mas fui feita pelos ajudantes dele... – Respondeu a Nossa Senhora do Rosário.

-       A senhora faria o maior sucesso na minha igreja. A nossa “Nossa Senhora do Rosário” é pequena e singela – Elogiou o Santo Antônio.

-       Ah meu filho, não quero “pegar” o lugar de ninguém...Queria voltar para a minha Igreja...

-       Eu sou uma peça portuguesa. Vim diretamente do Porto... Chique né? – Falou uma Nossa Senhora da Conceição de mais de um metro.

-       Muito... – Exclamou o Santo Antônio.

-       Eu sou paulista mesmo... Taubaté. E você? – Perguntou o São José.
-       Fui feito por um mestre que trabalhou muito na minha cidade... Mas não posso falar o nome dele... É segredo... – Explicou o Santo Novato.

-       Conheci um Santo Antônio... Ficava no nicho esquerdo do meu altar... Pegou cupim... Uma tragédia... – Lamentou a Nossa Senhora da Conceição.

-       Nossa! E o que aconteceu? – Perguntou o santo curioso.

-       Levaram ele para um ateliê de restauração, voltou lindo.

-       Que bom... Sei de um caso gravíssimo... Epidemia mesmo... Pegou em todo mundo. – Disse o São José pensativo.

-       E aí?

-       Ah,  perdemos um São João Batista, uma Nossa Senhora do Rosário e uma Santa Rita...- Explicou o São José.

-       Catástrofe! Isto acontece quando a comunidade não cuida direito da igreja...

-       Somos muito bem cuidados aqui. Jorge nos limpa uma vez por semana... – Falou um Cristo que segurava uma grande cruz.

-       Mas isto aqui não é uma igreja... É escuro e pequeno... – Disse o Santo novato.
-       Ai que saudade da minha igreja... As orações, as velas iluminando...O povo e os pedidos do povo... – Lamentou a Senhora do Rosário balançando o terço.

-       Não tem reza aqui? – Espantou o Santo recém-chegado.

-       Não tem nada, só escuridão e a visita do Jorge de vez em quando.

-       E ele reza?

-       Não... Apenas fica admirando...Nada de preces... – Respondeu o São Joaquim que até então apenas ouvia.

-       Mas que coisa egoísta... Na igreja somos adoradas por multidões... E as orações... Adorava ouvir os pedidos e tentar atendê-los...

-       Aposto que eram sobre casamento... – Falou um Menino Jesus deitado em uma manjedoura.

-       A maioria dos pedidos era sobre casamento. – Confirmou o Santo rindo.

-       Ai, e as procissões... Adorava sair pelas ruas no andor. Adorada ver toda a população da cidade... Subindo ladeiras... Perdi a conta de quantas vezes sai pelas ruas... Nunca era igual. Ás vezes as novidades não eram boas. Sentia a falta de uma casa, percebia um prédio novo e feio ocupando o lugar de um sobrado lindo que existia perto da igreja... Uma mudança no ritual... Mudança para pior... – Lamentou a Nossa Senhora do Rosário ajeitando o manto.

-       E os veículos... Quando vi o primeiro automóvel quase desci do andor e sai correndo. – Disse o São José alisando a barba.

-       E os cantos... Na sua igreja tinha música? Na minha igreja cantava-se muito a luz de velas quando eu era uma imagem novinha. O órgão com aquele lindo som do Céu... Depois instalaram luz elétrica e a igreja ficou muito mais clara...- Falou um São Sebastião soltando um dos braços para evitar a cãibra.

-       Adoro a Semana Santa e a decoração das ruas...Saia da minha Igreja e ia para a Igreja de Minha mãe... – Falou o Cristo pensativo.

-       Ai meu Deus que saudades do Congado... – Lamentou novamente a Nossa Senhora do Rosário.

-       Meu povo deve estar muito triste...- Falou o Santo Antônio forçando a vista, tentando enxergar melhor os companheiros.

-       Aposto que sim. – Falou o Menino Jesus balançando as perninhas.

-       E o Jorge que nem reza... – Disse o Cristo ajeitando a cruz no ombro.

-       Moço mais egoísta... – Falou Santa Efigênia.

-       Será que ele não tem olhos para ver o que está fazendo com a gente e com o nosso povo? – Perguntou a Santa Luzia depositando o prato na mesa.

-       Se pelo menos fosse um museu... No museu as pessoas nos visitam... Já pertenci a um museu...- Falou o Cristo.

-       Museu! Deus me livre! Sou uma santa fui feita para ser adorada e louvada. No museu somos objetos de arte. – Reclamou a Santa Rita.

-       Mas é melhor que isto aqui. – Falou o Cristo.

-       Moço egoísta... E pensar que estou aqui há quinze anos... – Lamentou novamente a Santa Efigênia.

No lado de fora Jorge ouvia a conversa e seu coração inicialmente assustado estava agora carregado de tristeza.

A princípio pensou que fosse imaginação. Mas logo percebeu que se tratava de uma conversa real. Muito real... E séria.

As lágrimas trasbordavam dos olhos banhando-lhe a face e um grande sentimento de culpa apertava-lhe o peito.
Via os altares vazios e o choro dos fiéis lamentando a perda dos santos de sua devoção. Ouvia o sermão duro do padre pedindo providências. Via os andores vazios... As beatas chorando... As procissões empobrecidas...

Via o quarto com os olhos dos santos: escuro silencioso...Sem preces, sem luz de velas...

As lagrimas agora molhavam sua camisa. Enxugou os olhos e sem querer bateu com a mão no trinco provocando um forte ruído metálico.

A conversa cessou.
Jorge não precisava ouvir mais nada.

Abriu a porta e encontrou o quarto como havia deixado: em silêncio. O Santo Antônio estava lá entre o São José e a falante Nossa Senhora do Rosário.

Parou ao lado da peça de Nossa Senhora do Rosário e acariciou-lhe o rosto. Depois pegou o prato da Santa Luzia que se encontrava na mesa e colocou sobre a  mão estendida da santa.

-       Meus santos e minhas santas, lamento muito o que tenho feito com os senhores e suas comunidades... Lamento do fundo do meu coração... A partir de amanhã providenciarei o retorno de todos às suas igrejas... – Disse ajoelhando no chão frio do quarto e iniciando uma silenciosa oração...
                                                                FIM
ATIVIDADES
1-      Na sua opinião, por que Jorge se interessa por imagens sacras?

2-      Qual a diferença de uma imagem sacra na igreja e no museu?

3-      Por que as imagens são roubadas?

4-      O que pode ser feito para proteger os bens sacros das igrejas e dos museus?
5-     Você sabe o que é tombamento?
6-      Por que você acha que algumas imagens são tombadas?
7-      Quais são os atributos da imagem mais importante da igreja matriz da sua cidade?
Faça desenhos ou fotografe esses atributos explicando o significado de cada um,
Colando em uma cartolina.
8-      Faça uma pesquisa sobre a vida da Santa.
9-      Existe uma festa sobre a imagem? Quando, como e onde acontece?


 ALGUMAS PEÇAS DESAPARECIDAS:




EDUCAÇÃO PATRIMONIAL - A FOTO DA BISA

A FOTO DA BISA
Autor: Carlos Henrique Rangel

Casamento de Carlos Ataíde Rangel e Zilá Costa Rangel em 1957.
Ao fundo minha Bisavó "Mocinha" - Maria Josefina Velho Barreto Rangel.


Vovô Carlos estava sentado em sua poltrona preferida lendo um livro quando Paulinho se aproximou.
- Vovô pode interromper o senhor um pouco?
O velho senhor fechou o livro e sorriu para o garoto.
- Claro Paulinho, o que você quer perguntar? – Perguntou o avô esperando a dúvida do neto.
- Na minha escola vai ter um projeto de educação patrimonial... Escolheram a minha sala para participar...
- Interessante... Que sorte a sua...
- É esse o problema... Eu nem sei o que é essa tal de educação patrimonial...
-Essa é a dúvida? – Perguntou o avô.
O menino puxou uma cadeira e se sentou enfrente ao ancião.
- É sim. O que é essa educação Patrimonial?
- Bem, educação patrimonial são ações e situações elaboradas pelos professores que pretendem motivar vocês alunos para o reconhecimento e valorização do patrimônio cultural da cidade onde vocês vivem...
- Patrimônio Cultural eu sei. São as igrejas, prédios antigos... – Respondeu o menino mostrando conhecimento.
- Você está certo. Mas o patrimônio cultural não é só o que é antigo ou artístico, ou só as igrejas. Na verdade Patrimônio Cultural é o conjunto de bens culturais de um povo, comunidade ou grupo, reconhecido ou não pelos órgãos de proteção – Completou o avô.
-  Não entendi... – Disse o menino coçando a cabeça.
- Me deixa ser mais claro... Bens culturais são aqueles que por alguma razão... Histórica, artística, arquitetônica ou sentimental são valorizados por um grupo de pessoas ou mesmo um cidade inteira. Esses bens são como caixas de memórias desta comunidade... Carregam a história, a alma deste grupo...
- Nossa! Eu achava que era só porque eram antigos, não entendia desta forma. – Exclamou o menino admirado.
- Esses bens são importantes para a comunidade porque permitem que ela se reconheça enquanto um grupo particular diferente de outro, e isso faz com que essa comunidade se sinta bem, se sinta unida. Esses bens estão relacionados com a vida de cada membro daquela comunidade. Eles “falam” a todos, mas falam diferente para cada indivíduo...
- E a educação patrimonial...
- Bem, às vezes alguns elementos da comunidade perdem esse referencial. Não entendem mais o porquê de preservar certos bens... E isso é em função de vários fatores: Crescimento desordenado da cidade, mudança de costumes, enfraquecimento da memória...
- Enfraquecimento da memória? – Perguntou o menino sem entender.
- Se ninguém conta para uma pessoa a história desse bem... Se aquela pessoa não vivencia mais o bem, por que mora longe ou por que ninguém nunca a levou lá, esse bem vai ser esquecido. Essa pessoa não vai mais conseguir ouvir a voz do bem cultural.
- Nossa! É ai que entra a educação patrimonial? – Perguntou o menino empolgado.
- Isso. A educação patrimonial visa estimular essas lembranças esquecidas. Fazer aquela pessoa enxergar de novo aquele bem e ouvir o que ele tem a lhe dizer.
- Mas nós crianças não esquecemos... Nós nem sabíamos... – retrucou o menino.
- Eu sei. E é por isso que vão fazer educação patrimonial com vocês. Não porque esqueceram, mas porque vocês precisam descobrir esses bens com os seus sentidos. Não porque alguém disse que é importante, mas por que vocês mesmos vão passar a entender aquele bem como algo importante para vocês e a comunidade... Ele agora vai falar para vocês.
- O senhor falou várias vezes de que os bens falam... E o que eles falam?
O Avô sorriu.
- Como eu disse, dependendo do bem ele falará mais para mim do que para você ou vice- versa. Nenhum bem cultural fala igual para as pessoas. Mas uma coisa é certa: Ele fala para todas elas.
- Mas fala sobre o que? – Perguntou o menino ainda sem entender.
- Ele fala de lembranças passadas, histórias de um povo, de sentimentos e momentos esquecidos  mas sempre rememorados... Esse livro que estou lendo é muito bom. Eu já sabia que era bom por que a sua mãe tinha lido. No entanto, eu tive que ler para poder saber e entender porque ele é bom. – Disse o avô mostrando o livro. Depois abriu a carteira e retirou uma foto antiga.
- Esta é a sua bisavó, minha mãe... Sabe por que eu guardo essa foto? – Perguntou o ancião.
- Uai, para lembrar dela... – Falou o menino admirando a foto que o avô mostrava.
- Sim. Eu tenho memória, mas eu não guardo tudo. Para lembrar eu atribuo lembranças às coisas para elas me fazerem lembrar... E é diferente sempre. Todas as vezes que vejo essa foto eu me lembro de alguma coisa relacionada à minha mãe... Ás vezes fico triste... Outras vezes fico alegre...
- Nossa! E ela só fala para o senhor...
- Mas pode falar para você de outra forma se eu começar a contar as histórias desta sua bisavó e do mundo em que ela vivia. E você Paulinho, mesmo não tendo conhecido a Bisa, vai lembrar das historias dela e de mim todas as vezes que olhar essa foto.
- Acho que agora entendi. Quando o senhor me contar as histórias da Bisa o senhor estará fazendo educação patrimonial sobre a nossa família... – Disse o menino com os olhos brilhantes.
- Isso. E essa foto que antes não representava nada para você, passa a representar.
-E eu vou fazer tudo para que ela dure mais e continue “falando” para mim e também para os meus filhos... – Complementou o menino.
- Isso é educação patrimonial. Quando as pessoas começam a ouvir um bem elas passam a defender, conservar e usar esse bem...
O menino ficou pensativo por um segundo e sorriu.
- Vô Carlos...
- Sim Paulinho...
- Me fale da Bisa... – O velho senhor sorriu.


Fim

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

ALOÍSIO MAGALHÃES - PENSAMENTOS DO MESTRE

ALOÍSIO MAGALHÃES




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“O título do livro "E Triunfo?" nos faz perceber a sensível preocupação de Aloísio.
Seu título foi resultado da pergunta que Aloísio fez numa reunião de tecnocratas em São Paulo, na qual se discutiam a aplicação de milhões de cruzeiros em recursos para delimitar o fluxo do metrô. Com a perplexidade dos ouvintes diante da pergunta desconcertante, ele explica que Triunfo é uma cidadezinha no nordeste que vive em harmonia entre a ecologia e as necessidades técnicas. Aparentemente isso nada tinha a ver com a discussão, porém ele salienta que assim como esta existem muitas outras "Triunfos" e que situações como a vivida por estas comunidades devem ser preservadas, protegidas e estimuladas. Alerta que o que é feito nas reuniões que alteram a vida nas grandes cidades afeta também estas distantes realidades.”

Fonte: MELO, Carlos Giovanni Lacerda Mesquita. A Concepção de uma Ferramenta colaborativa para o cadastro dos fazeres populares. Vitória, Universidade Federal do Estado do Espírito Santo - Centro de Artes, 2011, p. 28.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

CARTILHA DO IPHAN - EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

CARTILHA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO IPHAN

http://educacaopatrimonial.files.wordpress.com/27DD2068-78EA-4C8D-8233-18AC89801789/FinalDownload/DownloadId-5F026CAFCF5B024B0ADA19B6716DC65E/27DD2068-78EA-4C8D-8233-18AC89801789/2010/08/maualatividadespraticas_evelina_03mar08web.pdf