PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

PROTEUS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 22 ANOS

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TEXTOS PATRIMÔNIO CULTURAL - EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

O PAPEL DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Carlos Henrique Rangel

O patrimônio cultural pode ser entendido como um conjunto de coisas de seres humanos. Coisas de gente, criadas para facilitar a vivência em grupo e a sobrevivência nos espaços que lhes foram destinados. Pode ser entendido também, como produto de uma construção coletiva dinâmica e viva produzida ao longo do tempo em um espaço definido. Ou seja, vinculado à memória e à construção de uma identidade e por este motivo deve ser preservada. Essa preservação e conseqüente conservação, manutenção e continuidade depende do envolvimento de todas as pessoas individualmente e coletivamente.

Cada Ser Humano é o que deve ser. E pode ser mais. E o que é,se relaciona com o que foi. Com os que foram. Com o que construíram os que foram...
O que é, se relaciona com o passado. Com as coisas do passado. Com o que foi feito no passado e continua presente.

O Ser é fruto  e construção  de outros seres. Somatória,complemento,continuidade. Cada Ser Humano carrega em si o seu mundo e para onde for, onde estiver, sua família, sua rua, sua igreja, sua praça, seu bairro, sua crença, sua terra, lá estarão. Cada Ser é um representante vivo de sua cultura. Do seu Patrimônio. Cada Ser Humano é um ser plural. O produto de uma cultura diversa e rica.De um modo de ser, fazer e viver. Cada Ser importa.

Ações educativas ou sensibilizadoras das comunidades detentoras de bens culturais ocorrem desde os primeiros tempos do IPHAN, órgão federal de proteção do patrimônio cultural, criado em 1936 em caráter provisório e consolidado a partir da Lei Federal n.º 378 de 13 de janeiro de 1937 e pelo Decreto Lei n.º 25 de 30 de novembro, também de 1937. No entanto, estas ações careciam de objetividade e planejamento que permitissem uma continuidade.


No Estado de Minas Gerais, após a criação do órgão Estadual de proteção do patrimônio cultural – o IEPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais –(criado em setembro de 1971), a situação não foi tão diferente. No início dos anos 80 (1983) a instituição criou o programa PAC – Política de Ação com as Comunidades - cujo principal objetivo era o de romper com o paternalismo estatal. A política de atuação do PAC partia do pressuposto de que todo bem cultural é “uma referência histórica necessária à formulação e realização do projeto humano de existência” 1.
“A condição necessária, para que este modo de atuação funcione plenamente, é a de que as comunidades locais possam se assenhorar, não apenas de seus valores culturais, mas também, dos tributos que lhes escapam das mãos.
(...)
Deste modo, a criação e o desenvolvimento de entidades locais, encarregadas do patrimônio local e sustentados pelas próprias comunidades, aparece como variável estratégica, capaz de equacionar o problema da deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas, fundamentais da Política de Atuação com as comunidades do IEPHA/MG é, precisamente, a de fomentar a criação e o desenvolvimento daquelas entidades. Neste sentido, cumpre-lhe oferecer às comunidades locais, subsídios para que possam se organizar de modo adequado.”2
O PAC, antes mesmo da chegada do conceito ao Brasil, já era efetivamente um programa de Educação Patrimonial. Mais tarde, em 1994, o IEPHA/MG criou o projeto “Educação Memória e Patrimônio” que durou cerca de quatro meses em duas escolas estaduais – Escola Estadual Barão de Macaúbas em Belo Horizonte e Escola Estadual Zoroastro Vianna Passos em Sabará.

Recentemente, durante o ano de 2007, o IEPHA/MG desenvolveu dois programas pilotos nas cidades de Pitangui e Paracatu utilizando uma nova metodologia de trabalho voltada principalmente, para a capacitação e monitoramento de projetos criados pelos diversos grupos sociais envolvidos.

Paralelamente, foi executado a partir de 1995, o ICMS Patrimônio Cultural, programa de descentralização da proteção do patrimônio cultural vinculado à lei estadual 13.803/00 atual lei 18030/09, denominada “Lei Robin Hood”, o qual repassa recursos do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) para os municípios que investem na preservação do patrimônio cultural, pontuando, também, ações planejadas de Educação Patrimonial.

Por ser ainda uma ação nova muitas dúvidas pairam sobre o tema Educação Patrimonial e principalmente quanto ao seu desenvolvimento.

Para nós, educar é alimentar e ser alimentado. É se dá ao outro e também receber. Educar é troca. É transbordar, mas também se preencher. Ou seja:
eu dou o que tenho e recebo o que você tem. A transformação é mutua. Eu serei outro. Você será outro. O que fizermos juntos será melhor e diferente.

Por isso entendemos a Educação Patrimonial como um trabalho permanente de envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade, visando a preservação dos marcos e manifestações culturais, compartilhando responsabilidades e esclarecendo dúvidas, conceitos e, ao mesmo tempo, divulgando trabalhos técnicos pertinentes e seus resultados.

Ela visa, principalmente, fortalecer a auto-estima das comunidades através do reconhecimento e valorização de sua cultura e seus produtos. A Educação Patrimonial é um trabalho de “autodespertar” motivado, que tem como temática toda a produção cultural de uma comunidade ou grupo social. Esse processo educacional, formal e informal, utiliza situações e ações que provocam reações, interesse, questionamentos e reflexões sobre o significado e valor dos acervos culturais e sua manutenção e preservação.


A Educação Patrimonial deve nos motivar, enquanto indivíduos, a pensar, a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Principalmente, ela deve trabalhar todos os sentidos humanos:
- Deve trabalhar o olhar para que possamos entender e compreender o que se vê, para compreender o gostar e o não gostar do que se vê.
- Deve trabalhar a audição para que se possa saber ouvir e refletir sobre o que se ouve.
- Deve educar o olfato para saber o mundo e seus cheiros e seus significados e para onde este nos remetem.
- Deve educar a percepção tátil para sentir as coisas. Sua temperatura, textura, maleabilidade, função estética.
- Deve trabalhar os modos de se expressar e os de dizer para que sejamos capazes de exprimir os sentimentos, duvidas, anseios e idéias, com propriedade através da fala, da escrita e do próprio corpo.

A Educação Patrimonial visa a fazer com que o ser humano compreenda a si mesmo, suas angustias, dores, medos, anseios e entender o porquê das coisas: o porquê de estar aqui. Entender a sua vida, seu modo de vida, seu mundo particular, seu mundo coletivo e a ligação e relação de tudo isto.
Principalmente, a Educação Patrimonial deve ajudar na compreensão do papel do indivíduo neste universo social e cultural.

Assim, a Educação Patrimonial deve ser entendida como um conjunto organizado de procedimentos e ações que tem como principal objetivo a valorização dos indivíduos e das comunidades e toda a sua produção cultural. É um processo de auto-educação e sensibilização que visa a eliminar a miopia cultural, despertando sentimentos e conhecimentos adormecidos que fortalecerão o senso de pertencimento de compreensão de responsabilidade dos indivíduos enquanto elementos de um grupo, sociedade, comunidade e lugar, utilizando para esse fim o seu acervo cultural.

Os princípios norteadores das ações de Educação Patrimonial são a descoberta e a construção em conjunto, motivadas pela observação, apreensão, exploração e a apropriação criativa do conhecimento, na busca da compreensão da condição individual e coletiva e o aprimoramento da vida em sociedade. Ou seja:

Sensibilizar a sociedade para uma mudança de atitude: de espectadores da proteção do patrimônio para atores desse processo.
Através da educação, produzir a compreensão; através da compreensão, proporcionar a apreciação e através da apreciação a proteção.

Com a Educação Patrimonial pretendemos contribuir para a formação do indivíduo enquanto parte de uma coletividade. Ou seja, uma peça importante e participativa para o desenvolvimento sadio das comunidades.

Com a Educação Patrimonial pretendemos alcançar a preservação de nosso patrimônio cultural pela sociedade como um todo – poder público, iniciativa privada e comunidades. Assim poderemos aprender a conhecer as diversidades culturais; aprender a fazer, participar, vivenciar essas diversidades culturais; aprender a viver em sociedade e respeitar as diversidades culturais e aprender a ser, desenvolvendo a capacidade crítica, emocional e criativa.

No entanto, por mais lúdicas e espontâneas que sejam as atividades e ações de Educação Patrimonial, elas não podem dispensar o planejamento. Não podem ser aleatórias. Devem seguir um plano/projeto estruturado, com princípio meio e fim, com: apresentação, justificativa bem definida, definição do público–alvo, objetivos claros,metodologia detalhada em atividades e ações, cronograma,orçamento,com definição da equipe que vai trabalhar e dos produtos que se pretende alcançar.

Ao final do projeto, avaliações e relatórios devem ser produzidos para otimizar as ações futuras deste ou de outros projetos que, por ventura, sejam elaborados. Desta forma, nossas atuações na Educação Patrimonial serão cada vez mais eficientes e alcançarão o objetivo principal que é o envolvimento das comunidades na preservação do patrimônio cultural e consequentemente na sua construção enquanto cidadãos.

Nunca é demais repetir que, o ser humano se faz com troca, transmissão, repetição, continuação, construção dinâmica, viva, sadia...

Um ser humano se faz com espaços físicos e outros seres humanos...Influenciado pela natureza: clima, fauna, flora...

Um Homem são muitos. Parte dos que foram. Parte dos vizinhos. Parte dos que chegam. Parte de si mesmo.
Um Homem é ETERNO se respeita o seu Passado, seu Presente, sua Comunidade e a si mesmo.


A PRESERVAÇÃO REVISTA
Autor: Carlos Henrique Rangel

Para viver e sobreviver no mundo, os seres precisam se adaptar aos espaços/lugares do mundo.
Os animais se relacionam com os lugares biologicamente, se moldando lentamente ao clima e ambiente. Tornam-se perfeitamente aptos para viver nos espaços que escolheram como lar.
O lugar se torna seu habitat sua morada definitiva e única.
E esse ser não poderá viver em outro lugar a não ser que seja um lugar muito parecido com o seu lugar de origem.
Sua história está vinculada, moldada no espaço que o construiu e adaptou.
O Homem, também é um ser adaptado biologicamente, mas não só.
Obrigado a viver em grupo para sobreviver o Homem criou mecanismos de comunicação para poder transmitir conhecimentos, idéias e descobertas: gestos e sons que se somam e formam sílabas, palavras e significados.
Esses códigos dizem algo. Passam algo. Transmitem algo.

Os homens estavam por natureza desprovidos de meios para viver isoladamente, (...) é a necessidade que os obriga a juntar-se uns aos outros, a inventar a vida social em conjunto”
Jâmblico, filósofo Sofista

O Homem se adapta ao lugar culturalmente.
Percebeu cedo que precisava do outro. Precisava compartilhar com o outro o seu conhecimento e suas experiências para continuar no mundo.
O lugar o molda, mas também é transformado por ele. O lugar é domesticado, trabalhado por ele.
Cedo o Homem percebeu o seu mundo e descobriu que ao contrário dos animais, precisa se adaptar aos lugares transformando-os.
Não possui peles fortes para protegê-lo do calor ou do frio. Não possui garras para matar ou rasgar os alimentos.
Para sobreviver às constantes mudanças climáticas do meio ambiente o Homem necessita criar peles artificiais tiradas dos outros animais. É necessário cria garras artificiais como pedras pontudas ou paus trabalhados para ferir e nocautear os animais/caças e os inimigos, os “outros”. E todos esses artifícios estarão sempre em constante evolução para uma melhor adaptação ao meio.
O Homem produz cultura. O único ser a fazê-lo. E cultura é essa soma de modos de ser, fazer e se relacionar com os espaços/lugares, utilizando o que o meio tem a lhe oferecer para sobreviver. Se há pedras, fará abrigos de pedra. Se há apenas terra, a casa será de barro. Se há gelo, que seja de gelo o abrigo a protegê-lo.

Cultura
Conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo, meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência, transformando a realidade.
Cultura é um processo em permanente evolução, diverso e rico.
É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, uma comunidade, fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de valores espirituais e materiais.

Ao contrário dos animais. Que naturalmente se molda aos lugares. O Homem precisa aprender. Não se nasce com cultura. É necessário aprender a cultura do grupo.
Os modos de ser de acreditar de se relacionar com o outro. Cultura se aprende.
Então cultura está relacionada com o passado. Com o que foi vivenciado no passado e que deve ser transmitido para que continue e ajude o grupo a se perpetuar no mundo.
Cultura está relacionada com lembrança e com a memória e define a identidade do grupo.

A Cultura está em gestos e ações dos Homens. É um fazer portador de sentidos.
E os produtos culturais são conseqüências deste fazer, deste agir.
A importância cultural é dada pelos atores deste fazer.

IDENTIDADE
Tudo aquilo que diferencia e que identifica
o homem, um grupo social, político, étnico, religioso, etc, em relação ao Outro.
São as ações do homem para viver em sociedade ao longo da história e do dia a dia.

Minha identidade é a soma do que lembro individualmente e em conjunto. Minha memória se faz com o meu passado e consequentemente molda a minha identidade.

Memória: Lembranças, reminiscências, vestígios.
Aquilo que serve de lembrança.

Todos nós temos lembranças. Só lembramos do que passou.

O Homem precisa aprender sempre para lembrar. Deve ensinar e transmitir para que outros possam lembrar e futuramente transmitir.
Mas a memória do homem é frágil e mutável. Constantemente é construída no presente. Nem tudo o Homem lembra e para isso é importante repetir e transmitir e também atribuir lembranças às coisas e lugares. Para isso é necessário qualificar as coisas e os lugares para que esses “falem” e sejam suportes da memória do indivíduo e do grupo.
Lembrar pode ser a diferença entre sobreviver ou perecer.
Para não esquecer eu guardo o que pode me fazer lembrar.
Posso escrever, posso documentar e posso incorporar valores e lembranças às coisas para que elas me façam lembrar.
O que sou está no passado, no presente e nos espaços que me rodeiam.
Sou influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.
O que sou eu aprendi e construí com os meus
E guardo em minha memória.


MEMÓRIA
“Mais que apenas via de acesso ao passado, a memória é uma estrada para a compreensão do Eu”
(Cunha, João Paulo. Editor de Cultura do Jornal
Estado de Minas)

Todo ser humano é em um lugar. E nesse lugar deixa sua marca e sua essência, moldada e influenciada pelo lugar.
O Ser humano está no lugar. O lugar faz o Ser. O Ser também faz o lugar.
Então, a permanência de um grupo depende da sua cultura, que depende do lugar. Depende da memória de grupo e dos suportes da memória: os lugares que falam.
Essa produção cultural de um grupo é uma herança compartilhada.
Podemos herdar os bens culturais, mas não herdamos a sua compreensão.
Para compreender é preciso aprender, conhecer, vivenciar, apreciar.
Aquilo que eu compreendo e conheço, eu respeito.

“A espécie humana é a única que precisa
Ser educada” (Kant)

“Depois do pão, é de educação que o povo
Precisa” (Danton)

Onde tem gente tem cultura transplantada, recriada, reconstruída, adaptada, inovada e novamente criada.
Onde tem cultura tem bens culturais: materiais e imateriais produzidos pelo Homem para viver e sobreviver no mundo que o cerca.
Todo lugar de Homem...De muitos Homens produz cultura.
Cada ser humano carrega em si o seu mundo e sua cultura e é direta e indiretamente
transmissor, reprodutor,inovador e criador de cultura.


“A história social e pessoal, pode qualificar as coisas, os objetos, os lugares da casa, os lugares de um bairro. Até mesmo a natureza vira memória.”
(GONÇALVES FILHO, José Moura. 1991)

O que o Homem é está no passado, no presente e nos espaços que o rodeiam.
O Homem é influenciado pelos lugares e pelos outros seres humanos.
O que é aprendeu e construiu com os outros e guarda em sua memória e em suportes.
È por isso que o Homem guarda coisas. As coisas falam. Fazem com que se lembre do que aconteceu no passado e que precisa para continuar.
Algumas coisas, esses “bens”, falam só para um indivíduo ou para a sua família. Falam de coisas que vivenciou e de coisas e seres que quer lembrar.
Há outros bens que falam para o grupo/comunidade/nação e transmitem o conhecimento que necessitam para que possam sobreviver com dignidade e autoestima.

Esses são os “bens culturais”, produtos do processo cultural de um grupo e que são importantes não por serem históricos, artísticos ou arquitetonicamente únicos, mas por que são essencialmente suportes da memória do Homem.
O valor de um bem cultural está nessa capacidade de “falar” ao grupo tanto coletivamente como individualmente. Está impregnado de lembranças e dá sentido ao grupo e o diferencia de um outro. Esse bem só terá sentido para um grupo se for um suporte vivo de lembranças.
Esse bem precisa estar vivo no cotidiano do grupo para realmente falar a esse grupo.

“...o conceito de bem cultural extrapola a dimensão elitista, de "o belo e o velho".E entra numa faixa mais importante da compreensão como manifestação geral de uma cultura. 

O gesto, o habito, a maneira de ser da nossa comunidade se constituem no nosso patrimônio cultural. (...)"
(Aloísio de Magalhães)

Preservar os bens culturais materiais e ou imateriais de grupo é manter a identidade deste, garantindo a sua continuidade. Mas isso só será possível se esse grupo continuar a “ouvir as vozes” dos bens culturais.
Ninguém nasce sabendo cultura e sempre será necessário ensinar o respeito às coisas que falam para podermos ouvir. É preciso romper a miopia cultural e aprende a escutar o que os lugares e os suportes da memória têm a dizer.

Só respeito o que conheço. Só preservo o que significa algo. Só protejo o que é caro à minha memória e sobrevivência.


ESSAS COISAS...
Autor: Carlos Henrique Rangel

As coisas nos falam mesmo quando não temos a capacidade de ouvi-las por não entendermos sua linguagem. Mesmo quando falam de memórias de outros, conseguimos ouvir seus sussurros de um tempo que não é nosso e do qual não participamos ou vivenciamos. Sabemos que trata de memórias de homens mesmo que não sejam as nossas.
Um Rio pode ser uma metáfora do tempo, esse que passa sempre e mesmo sendo o Rio é sempre um novo rio.

As coisas ou o que resta das coisas berram memórias e mesmo o rio, reflete o tempo dos homens em suas margens, em seu espelho d’água, esse caminho que leva o Homem e que também é marcado pelo Homem.

São os homens que atribuem vozes às coisas. Que lhes impregnam de significados para fazer lembrar mesmo que seja inconsciente.

Coisas que falam duram mais...
Homens que ouvem as coisas estes também vivem mais e melhor.

O OUTRO
Autor: Carlos Henrique Rangel
Vivendo em grupo por necessidade e sobrevivência, o ser humano cedo necessitou de símbolos e códigos para se fazer entender e compreender o seu mundo e os seus iguais. Essa necessidade do outro e a convivência com este só foi possível através de um consenso coletivo para se entenderem em relação a tudo. Desde as pequenas como a nominação de um objeto, às regras de convivência.
Se esse consenso se deu através de lideres carismáticos ou autoritários, ou mesmo de forma democrática, essa não é a questão. O fato é que o consenso existiu para que fosse possível a convivência em grupo e a adaptação a um espaço determinado.
A identidade desse grupo será definida pelo consenso. Pela crença em valores assimilados por todos ou pelo menos a maioria dos membros do grupo. Os que não aceitam as regras do grupo são excluídos e se tornam os “outros”.
Também esses, denominados “outros” são necessários para a formação da identidade do grupo e a consolidação de suas crenças, costumes e ideais. A identidade de um ser ou de um grupo é definida pela contraposição à identidade de outro. O outro indivíduo, grupo ou comunidade ou nação será sempre a referência até mesmo para o fortalecimento da identidade.
Ao mesmo tempo, uma comunidade por mais homogênea que seja sempre terá grupos discordantes – “os outros” que também possuem identidade própria, cultura própria, mesmo que identificados de uma forma geral com o grupo dominante.
Essa minoria dentro de uma comunidade maior ainda assim é parte desta e merecem respeito quanto a sua memória, identidade e suas produções culturais.
O outro que me acompanha e que produz cultura comigo, o que permite a diversidade cultural merece ser reconhecido, respeitado e valorizado como parte do grupo maior.
Numa sociedade consensual a diversidade deve ser o consenso para que a o grupo se renove culturalmente e sobreviva com a autoestima valorizada e fortalecida.
Esse outro também ele é parte do grupo e mesmo o outro culturalmente diferente, aquele de outro grupo/nação, também esse merece respeito. Ser diferente não é ser pior ou melhor. É apenas diferente. Outra forma de ser e de se relacionar com o mundo e seus lugares.O outro é o meu céu e meu inferno. É o meu contraponto.
O outro sou eu diferente.


PENSANDO O PATRIMÔNIO CULTURAL
Autor: Carlos Henrique Rangel

A preservação do patrimônio cultural, apesar de sua origem elitista, sempre foi a luta desesperada do homem em se fazer lembrar e se lembrar.

Os bens eleitos como culturais nos vários momentos históricos, são suportes da memória que se quer preservar e lembrar.
São poderosos ressuscitadores do que foi ou do que se imagina que foi. Despertadores/receptáculos de glórias imaginarias criadas ou recriadas ao longo de séculos.

Os bens culturais permitem leituras diversas como são diversos os homens.
Mas podem falar essencialmente de forma semelhante a memórias diversas.
Podem ser reconhecidos e apropriados por esses grupos diversos com sentidos parecidos mas diferentes.

A necessidade de sobreviver e permanecer faz com que o homem atribua valores a bens culturais materiais e imateriais de forma individual e coletiva.Sempre nessa ordem:
- individual, por que somos indivíduos únicos com memórias únicas.
- Coletiva, por que somos ao mesmo tempo seres plurais e vivemos em grupos com crenças, objetivos, gestos, maneiras e códigos em comum.

Cabe ao homem individual e coletivamente a atribuição dos valores. Cabe ao homem a tarefa de transformar uma pedra “na Pedra”, uma casa “na Casa”, uma praça “na Praça”, uma festa “na Festa”.

Essa incrível capacidade de valorar, de qualificar, de dar sentido às coisas não é e nunca foi gratuita.

O homem precisa de valores e de atribuir valores às coisas para continuar no mundo. Para continuar vivendo em grupo. Para lembrar de quem foi, é e será.

É necessário se acreditar eterno no que pode durar além da vida humana, além da memória humana.

Memórias genéticas, memórias incrustadas em objetos: casarões, quadros, objetos ritualísticos, templos, rituais, modos de fazer.

Mesmo que sejam memórias relidas, idealizadas, deturpadas, modificadas.
Ainda assim, memórias.

A continuidade de um grupo e de um indivíduo enquanto parte de um grupo pode depender de um simples objeto ou rito.

A preservação do patrimônio cultural, em que pese a sua origem elitista sempre foi a luta desesperada do homem em se fazer lembrar e se lembrar. Mesmo que os receptáculos desta memória sejam finitos.... "Mas que sejam eternos enquanto durem".



OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO IEPHA DE 1994 A 2010
Autor: Carlos Henrique Rangel


I - APRESENTAÇÃO:


O Projeto Educação, Memória e Patrimônio foi uma experiência pioneira do IEPHA/MG com educação patrimonial realizado em 1994. A instituição realizou outras ações em anos anteriores voltada para as comunidades em época que o conceito educação patrimonial ainda não tinha chegado ao Brasil.

II - INTRODUÇÃO:

O Estado de Minas Gerais concentra inúmeras e diversificadas manifestações culturais espalhadas por toda sua extensão territorial, fruto de suas raízes históricas, suas potencialidades socioeconômica e rica herança cultural.

O empenho para a criação de uma instituição destinada à preservação do patrimônio cultural coube aos intelectuais modernistas, encantados com a homogeneidade das cidades do período colonial mineiro, que preservavam praticamente intacto o seu acervo arquitetônico e artístico do século XVIII. Graças a estes expoentes da intelectualidade brasileira dos anos vinte, foi criado em 1936 o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual IPHAN, regulamentado pelo Decreto –Lei n.º 25 de 30 de novembro de 1937. Este órgão de Proteção sustentado pelo instituto do Tombamento e sob a direção do Dr. Rodrigo Melo Franco de Andrade irá empreender a proteção dos grandes núcleos históricos e dos monumentos mais expressivos de nossa cultura até os anos 70 superando dificuldades e se consolidando.

Em abril 1970, o encontro de Governadores realizado em Brasília definiu que os Estados e municípios deveriam compartilhar a proteção do Patrimônio de expressão local, criando os seus órgãos de preservação:

1- Reconhecem a inadiável necessidade de ação supletiva dos Estados e Municípios à atuação federal no que se refere à proteção dos bens culturais de valor “nacional”.
2- Aos Estados e Municípios também compete, com a orientação técnica da DPHAN, a proteção dos bens culturais de valor regional.
3 – Para a obtenção dos resultados em vista, serão criados onde ainda não houver, órgãos estaduais e municipais adequados, articulados devidamente com os Conselhos Estaduais de Cultura e com a DPHAN, para fins de uniformidade da legislação em vista, atendido o que dispõe o art. 23 do Decreto-Lei 25, de 1937.

Seguindo a orientação do “Encontro de Brasília”, em 1971 o governo do Estado de Minas Gerais, criou o IEPHA/MG, fundação integrante do Sistema Estadual de Cultura com a atribuição básica de preservar o patrimônio cultural do Estado empreendendo a identificação, registro, fiscalização e restauração dos bens culturais tangíveis e a partir de 2002, dos bens imateriais.

Em âmbito nacional, em 1973, o governo federal criou o Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste, que tinha como principal objetivo a promoção e utilização dos bens culturais pelas comunidades. No entanto o papel destinado a essas “ainda era de mediar o gozo estético de seres estranhos à função social dos bens culturais: buscava-se atrair turistas”.[1]

Essa iniciativa permitiu o surgimento de experiências, ainda que esporádicas de atuação conjunta das instituições preservacionistas e as comunidades contempladas.

Ao longo dos mais de quarenta anos de existência, o IEPHA/MG, cumpriu com relativa desenvoltura as suas funções de proteger, gerenciar e estudar o patrimônio cultural do Estado. No entanto, o número reduzido do seu corpo técnico e a grande extensão territorial de Minas Gerais, aliada à diversidade do acervo cultural, cedo demonstrou a necessidade de parcerias para o desenvolvimento dos trabalhos. Já em 1981, esta necessidade se fazia premente e o envolvimento das comunidades na preservação, uma solução. Um programa com esta finalidade foi idealizado:

É cada vez mais premente a necessidade de consolidação de um programa de conscientização cultural das comunidades perante os valores do patrimônio histórico e artístico do Estado, condição básica para sua permanência como uma das grandes heranças espirituais do País e até para que se resguarde a própria responsabilidade pela história de Minas Gerais.
(...)
 Pelo fato de Minas Gerais possuir o maior número de cidades históricas do País, de contar com um dos mais significativos acervos barrocos e por Ouro Preto ter sido declarada Cidade Monumento Universal pela UNESCO, o IEPHA/MG, dentro de suas atribuições e voltado para um trabalho cada vez mais integrado com as comunidades, vem estudando a definição de um programa educativo capaz de contribuir com acerto para a formação da desejada consciência coletiva diante dos valores históricos e artísticos do Estado.
Nesse sentido, conscientizar as nossas populações sobre o direito comunitário de propriedade e o dever de todos na preservação dos bens culturais móveis e imóveis de Minas Gerais significa despertar e promover o “sentimento de respeito da comunidade” pelas tradições de interesse histórico, artístico, arquitetônico e ecológico.
O objetivo principal do IEPHA/MG, com o programa de conscientização a nível de comunidade, visa deflagrar o conhecimento mais amplo do nosso rico patrimônio cultural, condição fundamental para garantir sua defesa e conseqüentemente, o trabalho de restauração, conservação, valorização e divulgação dos bens tombados ou não de cada comunidade.”[2]

Esse programa de 1981 definia como prioridade a promoção do conhecimento a acerca do patrimônio Cultural com utilização de audiovisuais e filmes documentários e concursos em escolas, promoção de palestras, exposições fotográficas e distribuição de material institucional referente aos conceitos e conteúdo dos programas de restauração desenvolvidos pela instituição à época, denominados PCH – Programa de Cidades Históricas e POU – Programa de Obras Urgentes. Pretendia também, um trabalho junto às universidades incentivando as pesquisas referentes ao Patrimônio Cultural.

A ação comunitária é o esforço cooperativo e conjugado de uma comunidade que procura tomar consciência de seus problemas e busca resolvê-los desenvolvendo seus próprios recursos e potencialidades, contando para tanto com a colaboração de seus líderes, grupos e instituições.[3]

No entanto foi somente em outubro de 1983, com a criação do PAC – Política de Atuação com as Comunidades, que a instituição efetivou de fato um programa de conscientização das comunidades com o principal objetivo de romper com o paternalismo estatal. A política de atuação do PAC partia do pressuposto de que todo bem cultural é “uma referência histórica necessária à formulação e realização do projeto humano de existência”.

A Política de Atuação com as Comunidades – PAC parte do pressuposto de que todo bem cultural seja uma referência histórica necessária à formulação e realização do projeto humano de existência.
Por diferentes caminhos, diferentes pessoas podem descobrir diferentes aspectos do valor cultural de um mesmo bem. Mas, a ninguém é dado percebê-lo em sua totalidade, do mesmo modo que é vedado a uma só pessoa o acesso às infinitas imagens possíveis de serem projetadas sobre um só espelho.
(...)
A condição necessária, para que este modo de atuação funcione plenamente é a de que as comunidades locais possam se assenhorar, não apenas de seus valores culturais, mas também, dos tributos que lhes escapam das mãos.
(...)
Deste modo, a criação e o desenvolvimento de entidades locais, encarregadas do patrimônio local e sustentados pelas próprias comunidades, aparece como variável estratégica, capaz de equacionar o problema da deterioração do acervo cultural de Minas.
Uma das metas, fundamentais da Política de Atuação com as comunidades do IEPHA/MG é, precisamente, a de fomentar a criação e o desenvolvimento daquelas entidades. Neste sentido, cumpre-lhe oferecer às comunidades locais subsídios para que possam se organizar de modo adequado.[4]

Assim, para empreender essa descentralização foi criada ainda nos anos 1980, a Superintendência de Desenvolvimento e Promoção, que entre outras atribuições se responsabilizou pelas ações comunitárias e assessoria aos municípios. No período de 1982 a 1984 foram criadas 14 (quatorze) ALPHA – Associações Locais do Patrimônio Histórico e Artístico, nos municípios mineiros[5].

Entretanto, apesar de todo o trabalho empreendido, como a criação de um caderno técnico com conceitos e diretrizes para a proteção do patrimônio cultural, e uma cartilha do patrimônio cultural (publicada em 1989), os resultados não foram tão satisfatórios.


III - O PROJETO EDUCAÇÃO MEMÓRIA E PATRIMÔNIO


Em 1994, tendo em vista a continuidade dos trabalhos de conscientização e entendendo que somente a criação de uma sistemática de socialização do conhecimento de todas as questões que envolvem o patrimônio cultural poderia assegurar às comunidades a participação na construção de sua história, o IEPHA/MG resolveu investir em um pioneiro projeto de educação patrimonial. Esta nova empreitada pretendia conscientizar as novas gerações sobre a importância da preservação, entendendo serem elas as futuras guardiãs deste acervo cultural. Para sua realização foram envolvidas as superintendências das duas diretorias técnicas da instituição (Diretoria de Proteção e Memória e Diretoria de Conservação e Restauro) e a Secretaria de Estado da Educação.

Sob a Coordenação da arquiteta Aurora Pederzoli em parceria com a Assessora Técnica Geny Lima, o “Projeto Educação, Memória e Patrimônio" foi desenvolvido experimentalmente objetivando a promoção de ações educativas de identificação, valorização e proteção de bens culturais junto a escolas públicas estaduais:


“Considerando a Educação como uma das bases do processo de constituição da identidade cultural, o presente Projeto destina-se a implementar, apoiar e assegurar a continuidade de ações de caráter educativo em unidades escolares estaduais, no sentido de que possam ser transmitidos e refletidos criticamente, conteúdos sobre educação, Memória e Patrimônio [6].

Os trabalhos desenvolvidos em duas escolas escolhidas como piloto foram divididos em duas fases que contaram com um ativo envolvimento dos técnicos do IEPHA/MG:


- A Primeira fase consistiu em planejamento e realização do curso "Conversando com quem trabalha com Patrimônio Cultural", dirigido aos professores e supervisores das duas escolas envolvidas, tendo como objetivo“ proporcionar informações e atividades correlatas de cunho metodológico com a finalidade de inserção dos conceitos básicos do trabalho com Patrimônio Cultural e História local no currículo da escola de 1º grau” e construir uma didática de abordagem sobre o tema dentro das salas de aula tratando principalmente das questões conceituais. Em três dias foram ministrados os seguintes conteúdos:

  • Primeiro dia – “De Patrimônio Edificado a Bem Cultural e Natural: evolução de um conceito” e “Arte Colonial Mineira”.

  • Segundo dia – “Serro – uma experiência com a Comunidade” e “Restauração Artística”( com visita a um ateliê de restauração).

  • Terceiro dia – “Recursos metodológicos e materiais no trabalho curricular com Historia local, Memória e Patrimônio Cultural”.

Avaliação: Em termos de conteúdo, verificou-se que todas as informações passadas são da maior relevância, quando se pretende trabalhar as questões  referentes ao Patrimônio Cultural junto às comunidades escolares. Entretanto, alguns itens devem ser observados com relação às palestras, quais sejam:
-    a simplificação da linguagem técnica, a fim de que se torne acessível para os professores;
-    a preocupação em estabelecer elos de ligação entre um tema e outro, no sentido de se formar uma seqüência de pensamento;
-    o tempo de duração das falas, visando manter o nível de interesse dos participantes.

Ainda nessa fase foram realizadas visitas orientadas ao Palácio da Liberdade em Belo Horizonte e ao Conjunto Arquitetônico do Caraça, atualmente pertencente ao município de Catas Altas.


- A Segunda fase consistiu no trabalho de campo propriamente dito, envolvendo as escolas estaduais "Barão de Macaúbas" em Belo Horizonte e a Escola "Zoroastro Vianna Passos" em Sabará. Teve início em outubro de 1994, desenvolvido por duas equipes técnicas diferentes.

Na Escola Estadual "Barão de Macaúbas", foram envolvidas duas turmas do 3º ano do ensino fundamental, trabalhadas pelos técnicos: Elinete P. Vasconcelos, Carlos Henrique Rangel, Rodrigo Faleiro, a coordenadora Aurora Perdezoli, e a assessora Geny Lima. Na Escola Estadual "Zoroastro Vianna Passos" foram envolvidos alunos do ensino fundamental e médio, trabalhados pelos técnicos, Elisabeth S. de Carvalho, Tarcísio Guadalupe S. F. Gomes, Delmari Ribeiro, Rodrigo Faleiro, a coordenadora Aurora Perdezoli e a Assessora Geny Lima.

O trabalho denominado Jornada do Patrimônio Cultural foi precedido pela definição das atividades a serem desenvolvidas e elaboração do plano de trabalho. Devido ao ineditismo da experiência, foram muito discutidas as formas de abordagens adotadas. A coordenação do projeto em reunião como os professores identificou as temáticas de interesse dos alunos e definiu a abordagem inicial dos docentes, que consistiria basicamente em um trabalho interativo, participativo e envolvente. Com relação ao material didático todo ele foi elaborado pelos técnicos, assim como a sugestão para roteiro de pesquisa, reprodução do acervo histórico/fotográfico da Casa Borba Gato em Sabará, além da confecção de slides para os Jogos de Memória, e propostas de atividades.

Escolas diferentes, com turmas diferentes, obtiveram resultados diferentes, com utilização de metodologias e ações diferentes. Todos satisfatórios.

 Na escola de Sabará os destaques foram as visitas guiadas e as duas peças teatrais criadas pelos próprios alunos com a temática referente à preservação da memória e do patrimônio cultural.

Avaliação: Considerando-se o fato de que seriam três os roteiros a serem percorridos na cidade, os historiadores ativeram-se basicamente a dois, em decorrência do escasso tempo da palestra e diante da grande quantidade de informações a serem transmitidas. Entretanto, todos os relatos revelaram-se de grande importância para a uniformização da linguagem a ser utilizada em campo pelos técnicos do IEPHA/G.
(...)
A distribuição dos 90 alunos e 03 professores nos três roteiros ocorreu de forma desordenada e desigual, denotando a falta de compromisso e interesse dos professores para com o que havia sido estabelecido no encontro anterior (30 alunos e 01 professor em
cada roteiro).
(...)
Observou-se novamente, que embora de aparente interesse, a quantidade de informações foi considerada excessiva, prolongando em demasia o tempo despendido em cada edifício. Uma decorrência disto foi a interrupção de dois roteiros, diante da forte chuva que caiu aproximadamente às 17 horas, ou seja, muito tempo após o que poderia ser considerado prazo razoável para o fechamento
dos percursos.
Alem disto, não houve praticamente nenhuma contribuição por parte dos alunos, os quais portaram-se como meros espectadores e não como atuantes na construção do conhecimento.
(...)
Deve-se destacar a apresentação de duas peças de teatro, a leitura de alguns trabalhos, o envolvimento da comunidade (padre e pesquisadoras locais) e o depoimento de grupos de alunos que, por motivos diversos, não conseguiram apresentar um
“produto final [7]


Na Escola Estadual "Barão de Macaúbas", devido à juventude dos alunos, a equipe optou por uma abordagem questionativa, retirando dos próprios envolvidos, os conceitos relativos à idéia de Patrimônio Cultural, utilizando o vídeo de desenho animado “Alo Amigos” de Walt Disney, descontraído e aparentemente desvinculado da temática. Os alunos foram estimulados a se manifestarem com relação às imagens apresentadas que retratavam a paisagem brasileira da década de 40, em contraste com a realidade atual. Foram utilizados a seu tempo, questionários, recursos audiovisuais com imagens de bens tombados em Minas Gerais e em outros estados, jogos, cruzadinhas, desenhos e uma visita guiada pelo bairro da Floresta tendo como orientação uma planta da década de 40 e uma outra visita ao Museu Abílio Barreto. A excursão pelo Bairro motivou a curiosidade das crianças e o senso de observação permitindo a construção individual do conhecimento.


A utilização de vídeo contendo desenho animado descontraiu a turma e estimulou as crianças a falarem espontaneamente sobre o Patrimônio Cultural, construindo elas mesmas o seu conceito e noção de importância.
O número de slides utilizados (45) pode ser considerado excessivo na medida em que o tempo de duração da exposição é longo; entretanto, sua aceitação pelos alunos foi excelente, gerando questionamentos diversos e surpreendentes, se levada em conta a sua faixa etária (09 anos)
(...)
Os alunos receberam cópias de um trecho da Planta Cadastral da Administração de Juscelino Kubitschek, datada de 1942, com o percurso a ser feito devidamente “ iluminado”: Saindo da Escola, passando pela Praça Zamenhoff, Av. Assis Chateaubriand (antiga Tocantins), Av. Francisco Sales, R. Itajubá, R. Silva Jardim, com uma parada na Igreja Nossa Senhora das Dores.
A medida em que comparavam a numeração antiga com a atual das edificações, os alunos identificavam a idade aproximada das edificações e seus respectivos estilos.
No interior da Igreja, foram respondidas as questões apresentadas pelos alunos quanto a estilo, ambientação, simbologia, dentre outras.
A caminhada livre, sem excesso de informações, permitiu aos alunos que tivessem dúvidas e tirassem suas próprias conclusões a partir do que lhes era esclarecido. Acredita-se que, desta forma, o conhecimento foi sendo construído por cada um, ao invés de lhes ter sido fornecido um “pacote pronto”[8]
Em pouco mais de um mês de atividade os resultados obtidos foram surpreendentes, culminando com uma exposição museológica de objetos dos familiares dos alunos, com legendas elaboradas pelos próprios, e um júri simulado.
“A simulação do museu objetivou o ensino de “como visitar uma exposição”, considerando-se tudo o que foi trabalhado com relação a preservação e valor cultural”[9].

A idéia de se fazer um julgamento para se captar o nível de assimilação de idéias dos alunos foi motivada pelas observações detectadas na visita guiada ao bairro Floresta, onde a escola se situa. Devido à proximidade com o Centro da Cidade, a região foi e ainda é palco de grandes transformações que foram facilmente percebidas pelos alunos ao compararem o bairro existente com a realidade apresentada pela planta cadastral dos anos 40.

Para servir de pano de fundo ao julgamento foi escolhido o "Solar Cannã", imóvel da década de 40 que, devido a ameaça de demolição por parte dos proprietários foi embargado pela Prefeitura e a época do projeto, encontrava-se em ruínas.

A simulação do julgamento tendo como objeto uma realidade concreta motivou o conhecimento dos dilemas encontrados ao longo da luta pela defesa do patrimônio cultural. As turmas foram divididas em “contra a preservação do Solar” e “a favor da sua preservação”. Quatro alunos foram selecionados para encenarem a trama do julgamento. Representaram quatro irmãos: dois a favor da demolição do imóvel e os outros dois favoráveis a preservação. Um outro grupo de alunos foi designado para ser o corpo de jurados a quem caberia a decisão hipotética de preservar ou não o imóvel. Para maior conhecimento e sensibilização dos alunos foram apresentados slides com detalhes do interior e da fachada anteriores à degradação.

As duas duplas se empenharam na caracterização dos papéis e no julgamento presidido pela Presidente Interina do IEPHA/MG, Ruth Villamarim Soares. Defenderam com argumentos convincentes os seus pontos de vistas.

Os dois alunos que desejavam demolir o imóvel alegaram que era velho e que o mais correto seria a sua substituição por um prédio que teria um apartamento para cada um dos irmãos solucionando a disputa. Os outros dois "irmãos" argumentaram que a casa era cheia de lembranças do passado da família, citando cenas do convívio imaginário dentro da casa e até mesmo as cores das paredes dos quartos e os afazeres dos pais na cozinha do imóvel. Importante esclarecer, no entanto, que nenhum dos alunos conhecia o interior da Solar, o que permitiu uma representação criativa e comovente das argumentações. A atuação, extremamente convincente emocionou a todos os técnicos envolvidos por constatarem a apreensão e utilização dos conceitos discutidos durante o projeto para defenderem o patrimônio e a qualidade de vida local. Venceram os últimos.

Em avaliação elaborada após a atividade, a equipe considerou que a divisão das turmas

 ...gerou uma competição acirrada, provocando uma atitude parcial entre os alunos, os quais apesar da consciência sobre a importância da preservação passaram a querer ganhar, de qualquer forma [10].

Independente do resultado obtido pelo júri simulado, o mais importante de todo processo foi a grande participação das turmas que foram sensibilizadas para a descoberta, dedução, comparação e raciocínio com relação à temática, fechando com chave de ouro o Projeto Piloto:

A Jornada extrapolou a esfera da Escola, integrando também a comunidade (padre da Igreja N. S. das Dores, vizinhos da Escola, famílias dos alunos), a qual se mobilizou de diversas formas para a construção do trabalho.
O sucesso da atuação do IEPHA/MG foi tão grande que chegou a provocar “ciúmes” nas turmas que não foram envolvidas no Projeto. A resistência inicial, por parte de alguns professores, em trabalhar a questão do Patrimônio Cultural com seus alunos, acabou sendo superada a partir da tomada de conhecimento do
resultado do trabalho”.
(...)
“O trabalho realizado no “Barão de macaúbas” destacou-se pela flexibilidade no planejamento, o qual foi sendo construído diariamente, em respeito ao conhecimento e interesse de alunos e professores.
(...)
Considerando o objetivo do Projeto em despertar o interesse dos alunos para as questões da preservação do Patrimônio Cultural, houve uma preocupação por parte dos técnicos em não fornecer informações em excesso e sim, esclarecer os questionamentos no momento em que havia a manifestação de interesse pelos alunos, o que pode ser avaliado como bastante salutar.
A atuação integrada dos diversos técnicos envolvidos possibilitou uma linguagem unificada, acessível aos alunos, os quais puderam sentir o resultado do trabalho de uma equipe coesa.[11].

Finalizada a experiência, nas duas escolas o IEPHA/MG, devido a grande repercussão advinda, deu prosseguimento à educação patrimonial através do Projeto de Pesquisa "Memória de Minas - Educação e Patrimônio Cultural", numa tentativa de se criar uma atividade permanente integrada às ações comunitárias e ao projeto de realização de inventários da instituição. Este novo projeto tinha como principal objetivo “a socialização do conhecimento das questões referentes ao Patrimônio Cultural, assegurando às comunidades uma verdadeira participação na construção da sua história e, conseqüentemente, na melhoria de sua qualidade de vida”. Apenas um piloto foi realizado em 1995, na cidade de Leopoldina, onde se empreenderam ações educativas com a participação da comunidade na investigação reconhecimento e manutenção dos referenciais culturais do município. Foram ministrados encontros, palestras, fóruns de debate, o tombamento da Escola Estadual Botelho Reis e o inventário do acervo cultural do município. Nos anos que se seguiram, ações isoladas foram empreendidas em trabalhos de pesquisa para tombamento, inventário e restauração de imóveis tombados. No entanto, estas ações não se traduziam em um projeto efetivo da instituição refletindo muito mais a disposição de alguns técnicos.

IV - AS EXPERIÊNCIAS DE 2001 a 2006 –
Uma Publicação e o Projeto Trens de Minas

        Em 2001, foi realizada uma oficina sobre Educação Patrimonial na sede da Fundação João Pinheiro onde se discutiu as ações passadas da instituição e foram propostas novas ações em parceria com a Fundação João Pinheiro e Secretaria de Estado da Educação.

No ano de 2002, houve uma nova tentativa de se empreender um projeto de educação patrimonial, agora em convênio com a Secretaria de Estado da Educação e Fundação João Pinheiro, estabelecendo “um elenco de ações conjuntas visando a disseminação de conceitos, conhecimentos, experiências e recomendações para a exploração do tema Educação Patrimonial nas escolas de nosso estado”. O Projeto gerou uma publicação, (Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial) com textos de diversos autores, que se tornou referência nacional na área.

“A meta da Secretaria da Educação, nesse campo, é estimular ações voltadas para o conjunto do patrimônio histórico e cultural de Minas Gerais. Mas é importante ressaltar que esta não deve ser atividade apenas das instituições e pessoas interessadas na preservação de edificações ou conjuntos arquitetônicos que representam fases da história de Minas. O patrimônio da sociedade mineira vai muito além, das manifestações artísticas ao conhecimento técnico e científico, dos recursos naturais ao aparato turístico de cada região.”[12]

Em 2006 o IEPHA/MG realizou um programa de educação patrimonial dentro do sub-programa Preservação do patrimônio Cultural do programa “Trens de Minas”, visando, desta forma suprir esta carência de intercâmbio e conscientização tão importante para o bom desempenho da instituição, dos municípios e comunidades na proteção do acervo ferroviário mineiro. Paralelamente, desenvolveu várias ações educativas: cursos, palestras, fóruns, atendimentos presenciais e via e-mail/site, produção de informativos, estórias educativas e jogos auxiliando os municípios mineiros na realização dos seus projetos de educação patrimonial.

V - O PROGRAMA EDUCAÇÃO MEMÓRIA E CIDADANIA

          
De 2007 a 2010, a Diretoria de Promoção do IEPHA/MG, Gerência de Difusão, desenvolveu um grande programa de educação patrimonial - “Programa Memória e Cidadania” – cujos pilotos aconteceram em 2007 nas cidades de Paracatu e em seguida - em 2008, Pitangui - envolvendo comunidades quilombolas, associações de bairros, Conselho Municipal do Patrimônio, Secretaria Municipal de Educação, Secretarias Municipais de Cultura, entidades públicas e privadas diversas e escolas estaduais e municipais. O foco central era o desenvolvimento de projetos elaborados em conjunto entre os vários seguimentos da sociedade local. Nos anos 2008 a 2010 o projeto atingiu as cidades de Entre Rios, Jeceaba, São Brás do Suaçuí, Pirapora, Sabará, Sacramento, Berilo e novamente a cidade de Pitangui.

Paralelamente em 2008 e 2010 foi realizado um projeto com as escolas tombadas de Belo Horizonte, que contemplou as escolas estaduais, Barão do Rio Branco, Barão de Macaúba, Olegário Maciel, Afonso Pena, Instituto da Educação e D. Pedro II.



OS PROJETOS
  • Projeto em Paracatu – 2007/2008.
  • Projeto em Pitangui – 2008/2009.
2009 – Trabalho com os alunos do “Projovem” vinte e quatro professores e alunos envolvidos.
  • Projeto Escolas Tombadas 2008 a 2010.
  • Projeto em Entre Rios, São Brás e Jeceaba – 2008.
  • Projeto em Pirapora – 2009.
  • Projeto em Sacramento – 2010.
Participaram da oficinas cinquenta e sete agentes culturais.
  • Projeto em Sabará /Ravena e Berilo – 2010.

1 - Os objetivos dos projetos:

- Promover a sensibilização cultural através de ações junto às comunidades (palestras, cursos, cartilhas e boletins), para que absorvam os conceitos e conheçam a realidade local com relação ao Patrimônio Cultural e possam desenvolver coletivamente ações para valorização e preservação das produções culturais em conjunto com o IEPHA/MG.
- Estimular a apropriação e o uso, pela comunidade, do Patrimônio Cultural que ela detém.
- Estimular o diálogo entre a sociedade e os órgãos responsáveis pela identificação, proteção e promoção do Patrimônio Cultural, propiciando a troca de conhecimentos acumulados sobre estes bens culturais.
- Levar as questões relativas à preservação do patrimônio Cultural para dentro das escolas, contribuindo para que o corpo docente atue como agente multiplicador.
- Incentivar a participação das comunidades nas decisões referentes à preservação revitalização e conservação dos marcos culturais.
- Estimular a autoestima dos vários segmentos sociais através da valorização e reconhecimento de suas produções culturais.
- Propiciar o fortalecimento da identidade cultural individual e coletiva.
- Promover o estudo e a compreensão da cultura local, destacando sua importância e sua singularidade.
- Promover o estudo sobre os bens culturais e seus problemas, buscando soluções.
- Incentivar atividades que ampliem a participação de diversos segmentos da comunidade visando ao prosseguimento das ações do projeto.
- Promover a participação das comunidades nas atividades a serem desenvolvidas pela instituição.
- Tornar acessível, aos indivíduos e aos diferentes grupos sociais, os instrumentos e significados.
- Experimentar e desenvolver metodologias de Educação Patrimonial, que permitam um processo contínuo de conhecimento e compreensão e avaliação dessas ações.
- Promover a produção de novos conhecimentos sobre a dinâmica cultural e seus resultados, incorporando-os às ações de identificação, proteção e valorização do Patrimônio Cultural no nível das comunidades locais e das instituições envolvidas.

2 - O trabalho consistiu das seguintes etapas:

2.1 - Etapas Preliminares: Definição das ações a serem desenvolvidas.
  • Preparação do material didático a ser trabalhado: apostilas, folhetos explicativos, boletins informativos, cartilha e outros.
  • Reunião da equipe da Diretoria de Promoção com o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, a Secretária de Cultura e Educação dos municípios para explicar as intervenções do IEPHA/MG e definir  as ações do programa junto às comunidades.

2.2 - Etapa I: Definição da área de atuação /público alvo e cronograma.

  • Escolha das escolas e comunidades a serem trabalhadas.
  • Pesquisa e montagem de dossiê sobre a comunidade a ser trabalhada.
  • Definição do cronograma das atividades.

2.3  - Etapa II: Contatos e Divulgação.

  • Reunião com os representantes dos educadores, comunidades, conselheiros e agentes culturais para definição dos participantes da oficina, (em sua maioria agentes culturais, conselheiros e professores).
  • Divulgação do Projeto e ações: Utilização dos meios de comunicação disponíveis para a divulgação da intervenção em todas as suas etapas, através de convites, ofícios, matérias e entrevistas em jornais, rádio, televisão.
     

2.4 - Etapa III: Atividades junto à comunidade: Oficinas e Palestras


  • Planejamento e realização de oficinas e palestras para agentes culturais e educadores preparando para as intervenções nas escolas e comunidades.
As oficinas teriam duração de 16 horas com exposição de conceitos, dinâmicas de grupo, visitas orientadas a locais pré-determinados com mapas e folhas didáticas contendo exercícios para serem realizados em campo e a elaboração em conjunto de projetos a serem desenvolvidos nas escolas e nas comunidades.
O destaque nos exercícios da Visita Orientada são as folhas com detalhes de edificações situadas ao longo do trecho a ser percorrido, para serem descobertos e identificados pelos participantes da oficina. O exercício tem como objetivo estimular a percepção do espaço, muitas vezes ignorado no cotidiano.
  • Palestras para a comunidade em vários momentos do programa para esclarecer, informar e divulgar os trabalhos e obter aliados para a causa da preservação.
  • Utilização de Cartilhas e Folhetos Explicativos, Boletins Informativos sobre a instituição, o trabalho a ser desenvolvido e suas etapas, mantendo a comunidade informada sobre todas as ações do IEPHA/MG. Folhetos e/ou cartilhas foram distribuídas em locais públicos e no local onde ocorria a intervenção.

2.4  - Etapa IV: Monitoramento dos projetos:


  • Acompanhamento, monitoramento e orientação das atividades dos projetos elaborados em grupo durante a oficina, por meio de e-mail e telefone e reuniões pré-definidas.
  • Palestras para as comunidades envolvidas a serem realizadas em vários momentos dos projetos.
  • Utilização de Cartilhas e Folhetos Explicativos, Boletins Informativos sobre o trabalho a ser desenvolvido e suas etapas, mantendo a comunidade informada sobre todas as ações do Programa.
  • Visitas periódicas dos monitores do IEPHA/MG, pré-definidas em cronograma para acompanhamento e avaliação das atividades dos projetos.



2.6 - Etapa V: Conclusão dos trabalhos:

  • Todos os projetos monitorados pelo IEPHA/MG culminaram em um grande evento realizado em local público das cidades.
  • Avaliação dos Projetos e definição de novas etapas do Programa.


2.7 - Etapa VI: Relatório Final.


  • Produção de Relatório de Avaliação e Conclusão referentes às etapas desenvolvidas.
  • Produção de documento sobre as ações a serem desenvolvidas em defesa do Patrimônio Cultural.


VI – Atividades Correlatas do IEPHA/MG

Outro grande avanço no processo de municipalização e participação das comunidades na preservação do acervo cultural foi a valorização dos projetos locais de educação patrimonial, que pontuam os municípios no ICMS Patrimônio Cultural - atual Lei 18.030/2009. 

Exigência consolidada a partir da Deliberação Normativa 01/2005 do IEPHA/MG, as ações de educação patrimonial passaram a fazer parte do cotidiano dos municípios mineiros, visando a promoção sensibilização e valorização do patrimônio cultural.

Nesses anos de atuação, várias foram as iniciativas educativas dos municípios, desde a realização de cartilhas do Patrimônio Cultural, a jogos, revistas, camisetas, cds interativos, almanaques ,chaveiros, postais, calendários, imãs de geladeira, etc.
Destacamos as cartilhas de Pitangui, Ubá, Juiz de Fora, Uberlândia, Campo Belo, Conselheiro Pena, Aricanduva, Divino das Laranjeiras, Rio Piracicaba, Monte Alegre, Conselheiro Lafaiete, Tiradentes, Sete Lagoas, Contagem, Congonhas, Iturama, São Thomé das Letras, Três Corações, Canápolis Ouro Preto e tantos outros municípios.

Para auxiliar os municípios na elaboração dos trabalhos, foram ministrados cursos ao longo dos anos em cidades diversas do Estado.

A - A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM MINAS GERAIS A PARTIR DE 2005

2005 – 362 projetos e relatórios
2006 – 663 projetos e relatórios
2007 – 623 projetos e relatórios
2008 – 614 projetos e relatórios
2009 – 644 projetos e relatórios
2010 – 646 projetos e relatórios

B - CURSOS MINISTRADOS PELO IEPHA/MG AO LONGO DOS ANOS 2005 -2010

Ano   Cursos      Municípios       Agentes Culturais
                                                 Participantes             
2005        10             59                  -
2006        18           165                614
2007        09             85                290
2008        10             87                495
2009        17           116                572                        
2010        15           111                990
______________________________
TOTAL:  79            623              2961

C - EVENTOS DIVERSOS: SEMINÁRIOS, CURSOS, OFICINAS, FÓRUNS
2006
Somando eventos, seminários, cursos, oficinas, fóruns (foram 29): 312 Municípios.
Agentes Culturais envolvidos: 1105 agentes culturais.
2007____________________________________________________________________
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 221 Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1096 Agentes Culturais.
____________________________________________________________________                                                   
2008
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 193 Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1879 Agentes Culturais.
____________________________________________________________________
2009
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários: 359 Municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 2079 Agentes Culturais.
__________________________________________________________________
2010
Total de Municípios participantes dos cursos, fóruns e seminários até outubro de 2010: 111 municípios.
Total de agentes culturais envolvidos: 1366 Agentes Culturais.
TOTAL DE PARTICIPANTES de 2006 a 2010: 7525 AGENTES CULTURAIS

Anexo: Política de Ação com as Comunidades - PAC - Documento Básico -3 de 10 de 1983








NOTAS/REFERÊNCIAS:

[1] IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983, pág. 2.

[2]ACERVO, Informativo bimestral editado pela Superintendência de Pesquisa, Tombamentos e Divulgação.Belo Horizonte:  IEPHA/MG julho de 1981, pág. 4.

[3] IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC –  Ação Comunitária, 1983.

[4] IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC – Documento Básico, 03 de out. de 1983, pág. 1 a 10.

[5] IEPHA/MG.   Política de Ação com as Comunidades – PAC – 16 de julho de 1983.

[6] IEPHA/MG. Projeto Educação, Memória E Patrimônio, 1994.

[7] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. 16 a 20.

[8] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. 23 e 24..

[9] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” Dezembro/1994. p. 27.

[10] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” . Dezembro /1994. p. 26.

[11] IEPHA/MG. Relatório do Projeto “Educação, Memória e Patrimônio” . Dezembro/ 1994. p.27, 30.

[12] Hingel, Murílio de Avellar. Apresentação. Secretaria de Estado da Educação. Reflexões e Contribuições para a Educação Patrimonial. Grupo Gestor (Org.) – Belo Horizonte: SEE/MG, 2002. pág. 5 e 6.

O AUTOR
Carlos Henrique Rangel

É historiador de formação. Trabalha há trinta e um anos no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG. Foi chefe de Setor de Pesquisa de 1989 a 1991, Superintendente de Proteção de 1993 a 1999 e Superintendente de Desenvolvimento e Promoção de 2004 A 2007. 
Diretor de Promoção de 2007 a 2010.



O CUIDAR HOLÍSTICO
autor: Carlos H. Rangel

Os agrupamentos humanos produzem cultura material e imaterial, intervindo na natureza, destruindo/construindo, dando uma ordem ou engendrando ordem – suas ordens.
Muitas vezes incompatíveis com a ordem natural.
Esse construir/destruir. Essa cultura produzida por gerações, com o tempo e com as transformações impostas pela dinâmica da sociedade cada vez mais globalizada e suas distorções cada vez mais acentuadas, ameaçam não só o patrimônio produzido ao longo dos anos/séculos, como a própria convivência e sociabilidade.
A preservação cultural deve passar pela recuperação desta relação social. Pela viabilização e reabilitação dos lugares urbanos.
Preservar o Patrimônio Cultural implica em preservar o homem social.
A reabilitação patrimonial deve ser tratada holisticamente, solucionando problemas sociais: desemprego, menor abandonado, alcoolismo/droga, habitação, educação e saúde.
Preservar o homem para preservar a sua memória/cultura.
A reabilitação urbana deve ser realizada pela, com e para as comunidades. Descobrir os problemas e tentar soluções. Descobrir vocações e tentar incentiva-las e valoriza-las.
Para isto é necessário um grande trabalho que envolva órgãos e profissionais diversos: advogados, arquitetos, engenheiros, historiadores, restauradores, sociólogos, antropólogos, educadores, médicos, psicólogos e quantos mais forem necessários.
Preservar os núcleos Urbanos, implica na união de todas as secretarias estaduais e municipais, empresas, organizações não-governamentais. Implica no planejamento urbano e sua gestão. Implica em assistência médica , em escolas, em fim, resgate da cidadania.

LUGAR COMUM:
CONHECIMENTO E VALOR

Autor: Carlos Henrique Rangel

Ao homem cabe definir o que lhe é caro. O que lhe toca, fala e o impulsiona para o infinito futuro.

É característica humana conhecer ou pensar conhecer para aceitar , acomodar, sentir-se bem e continuar.

Conhecer e atribuir valores são essenciais ao homem para uma vivência sadia com o seu meio e os seus. E isso pode ocorrer de forma consciente ou inconsciente. Coletivamente ou individualmente. Sempre de forma diferente, por que diferentes são os homens e as relações destes com o seu meio/mundo.

Uma relação que é real e ao mesmo tempo mistica. Ao mesmo tempo fantasiosa e construída individualmente e coletivamente nos espaços domesticados.

Os valores são transportados, atribuídos aos lugares e as coisas, quase aleatoriamente ao longo dos anos e das vivências. Definem o caráter dos homens, influenciam o seu modo de ser, crer, e ver o mundo e vice-versa. Os lugares e as coisas influenciam e ao mesmo tempo são qualificados, valorados compreendidos, modificados material e imaterialmente pelos homens.

E a razão de tudo isso é viver bem.
Sentir-se bem e em segurança física e espiritual. “Eu me sinto bem no lugar que quero e me quer bem.”

O que conheço e me faz bem e me é caro, eu quero que dure, que permaneça. Por que a sua permanência está vinculada a minha sobrevivência, a minha continuidade.

Se o elo se rompe por incompetência do grupo humano em transmitir o conhecimento atribuído aos lugares e coisas, assistiremos a crise desta sociedade. Onde a ruptura acontece entre conhecimento e valor, a dispersão impera. Não há mais coesão social e um povo que não lembra está fadado ao desaparecimento. Um povo que não lembra não importa.
E se não importa, já não é mais um povo.

Para não esquecer os valores e ou atribuir novos valores é preciso lembrar sempre: transmitir, repetir, reconhecer, conhecer.
Está nas mãos dos homem a sua continuidade e permanência.

Sem passado e tradição não há continuidade e renovação sadia. Sem suportes da memória não há como lembrar e continuar com autoestima. Sem autoestima é o fim.

O que queremos?

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